Quando tinha mais ou menos 15 anos me forçaram a ler Dom Casmurro, foi na escola, era fim de ano e eu, que sempre gostei de português, me vi diante de tarefa árdua… Ler um livro do final do século XIX (final mesmo, foi publicado em 1899) com uma linguagem rebuscada e sem dúvida de difícil compreensão para um menino. Ainda hoje faço críticas a essa forma de “ensinar a gostar de ler” que as escolas adotam, mas foi assim, de forma um tanto quanto precosse, que tive meu primeiro contato com o grande Machado.
Já mais velho, com mais bagagem, mais leitura, me aventurei a ler Dom Casmurro, estava trabalhando em uma produtora de cinema que estava desenvolvendo um projeto baseado no livro e eu, como bom funcionário, resolvi ficar por dentro e, sinceramente, foi genial! Muito mais do que esperava, o escritor é muito maior do que me contavam e, depois daquele livro, fui visitando outros textos do autor percebendo que o título de maior escritor brasileiro não é para menos, depois de ler Machado de Assis você sai, no mínimo, falando melhor e com os pensamentos mais organizados (pelo menos me senti assim).
Há 100 anos atrás morria o maior escritor que essa terra já formou e por conta disso o ano 2008 no Brasil foi repleto de homenagens ao autor, desde mostras a reedições de suas obras. Machado de Assis foi homenageado de várias formas mostrando, ou tentando mostrar, que brasileiro tem memória. A Rede Globo também quis homenagear o grande escritor e para isso escolheu seu romance mais emblemático, o mesmo que li ainda jovem, Dom Casmurro, para servir de base para a minissérie que ontem a emissora colocou no ar com o título de Capitu. Capitu foi a musa do romance Dom Casmurro, um amor para o personagem principal e uma obsessão também, Dom (Bentinho) narra toda a história em primeira pessoa e de forma subjetiva conta sua versão do romance com Capitú e a possível traição da moça com Escobar, amigo do casal. A trama é complexa, fica difícil saber se a versão contada por Dom Casmurro é verdadeira ou não, já que o narrador oscila, a todo tempo, de temperamento. A minissérie, dirigida por Luiz Fernando Carvalho, tem um tom pop e teatral que visa atrair os mais jovens, mas a meu ver, afasta mais do que agrega público. Não por estar ruim, pelo contrário, a fidelidade ao texto é um dos pontos máximos além da produção, caracterização e a câmera nervosa e bem enquadrada com incidências de imagens do início do século XX, só não sei se os olhos brasileiros vão captar bem as imagens, surgindo ai um outro problema: Machado de Assis não agrada o grande público por conta de sua linguagem rebuscada e de difícil compreensão, é um autor antigo, de outra época e outro século, normal os mais jovens não entenderem, a minissérie tentou modernizar e modernizou tanto que deixou Machado ainda mais incompreensível, não sei, mas ainda acho que o Dom de Fernando ainda é para poucos. A TV está hoje presa à audiência, uma pena, pois excelentes trabalhos como essa minissérie podem se tornar cada vez mais escassos.