segunda-feira, 14 de janeiro de 2008

Onde estão nossos heróis?

Esse fim de semana fui até o cinema para assistir “Meu nome não é Johnny”, o filme conta a história de João Guilherme, o João Estrella, um jovem de classe média alta que se tornou um dos maiores traficantes de cocaína da década de 80, aqui mesmo, na cidade maravilhosa. O filme dirigido por Mauro Lima e com atuação impecável de Selton Mello é um daqueles filmes que nos fazem perceber o quanto o cinema brasileiro vem evoluindo (e muito) nessa última década. Com fotografia “climática” que nos faz sentir tensos e impregnados pelo ambiente lisérgico da época, cenografia e figurino impecáveis, elenco de primeira e tudo mais que uma produção cinematográfica - que honra o dinheiro que empresas públicas e privadas investem - pode oferecer ao espectador, o filme impressiona. Como um desfile da Beija-Flor de Nilópolis, o longa primou pela técnica, mas o enredo, sem querer desmerecer o eminente jornalista Guilherme Fiúza cujo livro deu origem ao projeto, me cansou um pouco. Volto a dizer, o filme é ótimo! O problema sou eu mesmo, estou cansado de ver delinquentes sendo colocados em evidência, cansado de aplaudir as peripécias de um errante, de um estorvo social que ao final acaba se dando bem, onde estão nossos heróis? Será que seremos eternamente reconhecidos como um povo que eleva à condição de nobres toda essa corja que carinhosamente chamamos de malandragem?
Não tenho nada contra o João Estrella, achei ótima a intenção de todos os envolvidos na produção em trazer a tona a vida de um traficante que depois de ter feito o que quis, pegou três anos em um hospital para reabilitação de viciados, foi um exemplo, um ser humano que conseguiu dar a volta por cima e sair das drogas e de qualquer pena mais severa e ainda escapou com vida. Muito boa essa história do João, digo mais uma vez que não tenho nada contra ele, mas me cansei de aplaudir essas figuras.
Nosso personagem era um toxicômano, um viciado, um doente, por conta disso deixou de ser enquadrado por tráfico de drogas e formação de quadrilha para se tornar o playboy viciado que precisa de amparo. O argumento que ele próprio, aos prantos, diante de uma juíza condoída com sua história e pela sua cara de menino bonzinho, colocou para se safar de uma pena mais pesada, pena essa que seria justa para alguém que foi pego em flagrante com mais dois comparsas em um apartamento da Zona Sul da cidade com aproximadamente de 6kg de cocaína (que seriam envelopados e enviados para a Europa), foi de que não era traficante. Pensem comigo, já que seria difícil explicar como aquela montanha de cocaína foi parar em um apartamento que servia de primeiro estágio para que a droga rumasse para a Europa, João assumiu a posse da droga e dizendo que era para consumo próprio, foi parar em um hospital de reabilitação para viciados, genial! Dá para ver por ai que “nosso herói” não era nada bobo, se deu bem, foi malandro, usou o emocional da juíza e se safou como muitos outros. Johnny (assim também era chamado) ficou no hospital, perdeu a namorada, o esquema de venda de drogas e até a confiança da mãe, mas limpou a poeira e tá ai, virou filme e tudo!
Uma boa história, um roteiro bem amarrado, mas onde estão nossos verdadeiros heróis? Aqueles que acordam cedo, pegam ônibus e ganham um salário de fome para sobreviver? Acho que esses “malandros do dia-a-dia”, que pagam imposto, que lutam para educar seus filhos nessa “selva de Johnnys” ainda não dão a mesma bilheteria que ex-viciados de classe média, uma pena.